Fazia tempo que não ia num show. Mais tempo ainda que não ia num show em estádio. Aliás, o reencontro dos Titãs na semana passada foi o primeiro show em um estádio desde que eles passaram a se chamar “arenas” e ficaram limpinhos e caros. Show de estátio me toca fundo. Desde o monumental o Rock in Rio com o Queen, do qual tenho vagas memórias de ter visto na TV (ou, mais provavelmente, em algum replay posterior).
Nos tempos de moleque na década de 1990 fui em muitos. Monsters of Rock com Black Sabath e Kiss em 1994 no Pacaembu. O mesmo festival no mesmo estádio em 1995 com Ozzy, Faith No More e (o chatíssimo) Megadeth; em 1996 com Iron Maiden e Raimundos. Hollywood Rock com Chico Science no auge, Jimi Page e Robert Plant no baita show do No Quarter.
Isso sem falar nos maravilhosos shows e festivais em casas como Olympia, Palace e até nos distantes Via Funchal e Credicard Hall. Como foram marcantes todos os Free Jazz, que baita festival. Me lembro como se fosse hoje do primeiro show de rock da minha vida, em 1991: Faith No More no Olympia. Eu tinha 12 anos e meus pais deixaram eu ir com amigos do prédio. Naquela época podia.
Chegar no meio da tarde, ficar na fila, esperar abrir os portões e depois entrar na muvuca. Aperto, alguns empurrões, de vez em quando ameaça de briga, rodas punk, dançar, pular e gritar pra depois voltar pra casa, quase sempre a pé ou de ônibus em longas caminhadas pelo começo da madrugada paulistana. Era coisa de moleque, sem dúvida.
Cheguei cedo nos Titãs, achando que já era tarde pra conseguir um bom lugar. Mas hoje em dia não tem mais aperto, não tem fila, tudo acontece como se você estivesse entrando num shopping. E assim é o público. Quase ninguém dança, quase ninguém pula, não tem aperto, no máximo cantam e, principalmente, empunham seus celulares para gravar aquele video que nunca mais será visto ou publicar aquele “stories” pra saciar o ego com a dopamina dos coraçõezinhos digitais.
Em algum momento dessa quadra do neoliberalismo inventaram essa desgraça da “pista premium”, que ocupava metade do estádio. Com ceretza foi um paulistano, pensando que sempre vai haver um paulistano disposto a pagar, inclusive paulistanos em outras cidades do Brasil. Quem fica perto do palco não é quem gosta mais da banda e enfrentou o perrengue pra chegar cedo, mas sim quem paga mais. É o “ambiente instagramável” que importa, não tanto o show.
Dei sorte de encontrar um amigo, que tinha sido parceiro nos tempos de bicicletada e com quem articulei (pelo Twitter, onde encontrei esse vídeo) uma festa improvisada no vão do MASP quando o David Bowie morreu. Dancing in the streets. Nos Titãs, conseguimos aglutinar uma meia dúzia de pessoas dançantes e criar um microclima de festa no meio das estátuas. Até rodinha punk na hora de Polícia rolou.
Foi um belo show, perfeitinho e empolgante. O Alexandre Matias escreveu dois textos sobre o show e publicou o vídeo na íntegra, com alguns comentários melhores que os meus.
Cabeça Dinossauro foi a minha primeira fita K-7 (comprada) e nunca deixei de curtir e escutar os Titãs, além de acompanhar e curtir as carreiras solo do Arnaldo Antunes e do Nando Reis. Estamos todos ficando velhos, então tem um longo momento “sentado e acústico” no meio do show que dá uma desanimada. Mas depois volta e acaba bonito. Compreensível: pular no palco durante duas horas aos 60 é só pro Mick Jagger e pro Iggy Pop.
Fui e voltei com as bicicletas compartilhadas da Tembici/Itaú. O grande ponto alto do Palestra Itália é a localização. No centro da cidade, não na puta que pariu. Tem ônibus, metrô e trem por perto. Achei que a demanda seria alta e que não teria vaga pra estacionar na chegada ou bicicleta disponível na volta. Mas tinha, até elétrica. A turma prefere o precariado do Uber e parece que as bicicletas compartilhadas se tornaram mesmo o veículo do sub-precariado do iFood. Sorte minha.