Sério, um blog? Em 2023?

Pois é, pesquisei bastante algumas ferramentas para tirar o pó dos dedos e fazer fluir os afetos através das palavras. O mais simples teria sido abrir um documento de texto ou um caderno de papel, mas achei que empinar os pensamentos no vento digital ainda pode fazer algum sentido. Talvez sobre alguma poeira cósmica em um futuro distante.

Neste 2023, acredito que pouca gente visita blogs periodicamente. Então dá pra acompanhar também por e-mail. Criei dois tipos de newsletter: uma que envia todos os textos assim que eles são publicados e a outra semanal, com um resumo do blog. Se tiver interesse, cadastre-se aqui. Além disso, dá pra acompanhar também pelo bom e velho RSS. Joguei os links dos primeiros textos no Mastodon e também no Linkedin, mas a tendência é não replicar muita coisa por lá.

Em 2005, quando botei no ar o apocalipse motorizado, blogs eram novidade, uma sequência natural da utopia libertadora da internet pré-algoritmo. Minha motivação era simplesmente escrever. Naquela época estava recém formado em jornalismo, engajado no questionamento da carrocracia e na Bicicletada. Montei o blog pois achei que era uma boa forma de tratar do que a mídia não tratava (“odeia a mídia, seja a mídia”, como dizia o Centro de Mídia Independente).

Dezoito anos depois, dá pra dizer que deu certo. Quer dizer, o blog “deu certo”, a internet acho que não. O apocalipse motorizado teve boa repercussão, inspirou muitas ações, congregou pessoas, difundiu ideias e me fez muito bem espiritualmente. Não tinha pretensões nem metas, era viver, fazer, fotografar e escrever.

E viver pra mim sempre foi um ato político, então a satisfação do espírito foi ver a contestação ao predomínio do automóvel e a propagação de alternativas crescendo. Essa potência está em refluxo. O carro verde está aí para aplacar as consciências culpadas. As telas dentro dos carros apaziguam o mal-estar do trânsito. O precariado mad max entrega tudo que é comprado online. A parcela debaixo da sociedade, que sustenta o sistema de pé, segue no transporte público ou, com “sorte”, em cima de uma moto. E vida que segue, enquanto as ruínas e os corpos se acumulam do lado de fora.

Tinha alguns requisitos ao escolher a ferramenta de publicação: ser dono do conteúdo, ter autonomia para alguns ajustes e não estar debaixo de nenhum guarda-chuva “gratuito” onde eu seria o produto. Me indicaram algumas ferramentas livres ou abertas como noblogs, Hugo e outras, mas a minha força de nerd foi diminuindo com o passar dos anos e eu não estava muito afim de grandes configurações.

Titubiei e quase fui pro Substack. Me parecia uma ferramenta decente, que cumpriria os requisitos acima e serviria ao propósito de algo fácil e sem pretensões, com a vantagem de enviar o conteúdo por e-mail. Mas já tinha começado a pagar um servidor para conservar o formol do apocalispe motorizado. Gosto bastante do WordPress e vi que dava pra montar newsletters por aqui. Além disso o Substack, como toda ferramenta das big tech, se você não paga, você é o produto (esse texto do Manual do Usuário tem uma boa reflexão sobre o Substack).

Então habemus blog no WordPress. Com domínio próprio, controle do conteúdo e sem invadir a privacidade de quem lê. Espero que seja uma boa jornada.

Gostou desse texto?

Assine a newsletter e receba um e-mail por semana com as novas postagens

Ou clique aqui para receber todas as postagens

Deixe um comentário

Este post tem um comentário

  1. Marcelo Siqueira

    Que delicia ler um texto num blog sem um monte de propagandas desagradaveis no meio. Vários canais de mídia independe que sigo, perco a paciência com inúmeras propagandas no meio do texto